sábado, 20 de dezembro de 2008

Desfigurado


Em tom sonolento,
arrasto silêncios sonoros,
passageiros em vento,
em mutações oferecidas
pela facilidade do comum.

Desfigurado,
procuro um norte
num azul, apeado.

Desfigurado,
contorno olhares
pelo rebordo
d'uma tela oca.

Desfigurado,
fujo de mim,
do ver,
do querer.
.
Desfigurado,
sem impressão.

terça-feira, 25 de março de 2008

O andar dos descalços

Escarpas nebulosas
que resolveste trepar
sem saber itenerários
ou programar destinos.
.
Escarpas virgens
(de coisas e gente!)
grávidas de teus calcanhares
nús, rotos, sangrentos.
.
Escarpas de ontem,
trilhos de ninguém
marcados (metro a metro)
pelo teu passo constante e singular.
.
Escarpas rectas e inandáveis
que pisas - Tu!,
ignorante do depois,
peregrino de caminhos nenhuns.
.
Escarpas nuas
que vestes de ruas
e que, em jeito de criança,
me dizes serem tuas.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Olhos

Teus olhos abertos
punham-se à escuta
de sabores àsperos
escorridos gota a gota
de remotos pertos,
inopinados rumores
que, em gritos surdos,
te diziam brancos
zuniam pretos
e te falavam todas as cores.
.
Teus decapitados olhos abertos,
põem-se, avidamente, à escuta
(...)
maculados pelo brilho
das ondas.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

As 12 palavras

Ao "desafio das 12 palavras", proposto pelo blogue arrabisca.

Nomear doze palavras, de um dicionário repleto de coisas e imaginação, revela-se tarefa difícil.
Pensei e pensei e indecido-me pelo método de triagem verbal: exclusão de partes ou aleatoriedade? ou talvez as que me ressaltarem à memória (ou à vista!)?



Sem palavras
perscruto avenidas
inundadas de ninguém,
procuro vermelhos
em bairros cinzentos,
pesquiso azuis
em lagos barrentos,
assalto emoções alheias,
em êxitos impossíveis,
minto verdades
ao ouvido de um surdo,
vomito verbos
em sons desditos
(...)
Sem palavras,
palavras: cem.
(ou doze)

Não nomearei ninguém, por enquanto. Pesquisarei, primeiro, pelo mundo dos blogs.

Escolherei, depois.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Tronco do cajueiro

Tuas rugas são os caminhos
traçados pela tua estática, longa
e monótona jornada,
a bordo dessa velha casca
imprenada de (des)feitos,
pronta a insular-se.
.
E nasces fénix hoje,
com a certeza
de um mesmo amanhã - sem ontem!
.
Convences a tua célere existência
da sua perpétua imutabilidade,
...
assim,
sem mais.

domingo, 10 de fevereiro de 2008


terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Buraco negro


Descreves círculos
com o teu andar
síncrono e espiralado.
Na tua constante hipnose,
vortexas-te,
qual sedento buraco negro,
em forças centrífugas
(e centrípetas!) e,
com energia rodopiante,
exponencias a tua força
solitária e una.
Num agora,
que não metamorfizas
em depois,
num perpétuo centrismo,
circundas-te,
circundas-te,
circundas-te,
"
"
"
(...)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Farpa


Nas tuas memórias
de tons pretos e brancos,
memórias de sangues
e tétanos,
fazes ressoar o canto
da tua vida séssil
e enfadonha
e anuncias, timidamente,
a tua coroa.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Concha

Devias ter-me trazido um presente
lá do longe, que é teu!
Mas não! Apenas te vejo, aqui de frente,
a deliciar os olhos de toda a gente,
a oferecer-te às terras costeiras,
qual náufrago sobrevivente
Generosamente te dás,
vaidosamente expões as tuas cores
aos raios de um sol que não é teu.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Cabo

Gotas salgadas,
que pintam atlânticos, pacíficos - e bravos!,
cortando ondas, dobrando cabos.
Gotas salgadas,
que chovem doces
na amarga superfície de um casco,
que salpicam de luz
os resquícios de um final de tarde.
Gotas salgadas,
que pingam os olhos lacrimejosos
de uma proa.



sábado, 5 de janeiro de 2008

A mosca

Fosse eu um cisne,
Fosse um avião,
Fosse eu um beija-flor,
Uma borboleta, um gavião,
(Ou, quem sabe, talvez, um bonito pavão?).
Fosse eu alheio a mim,
ainda que no desejo,
deslocado de qualquer existência.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Botão


Os azuis






O cá, longe.